sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Trilha , Trilha para quê fazê-la.....??????

O feriado, era de finados, depois de muito trabalho, decidi de última hora viajar com minha filha mais nova.
Ela tinha acabado de sair de uma crise de cálculo renal e achei que um pouco de mar lhe faria bem.
Para não errar na escolha, consultei uma amiga , dona de uma agência de viagem, que me aconselhou : ILHA GRANDE.
_ Lá você vai descansar , caminhar um pouco e a natureza lhe fará bem, disse com muita segurança.
Como tenho o péssimo costume de acatar os amigos, concordei com o pacote ,mesmo sem ter noção de onde estava indo .
Liguei , pedindo que minha filha providenciasse nossas malas, pois o ônibus sairia naquela mesma noite e eu como dependente química da escova progressiva , necessitava passar antes no cabeleireiro para deixar os fios totalmente lisos, caso contrário , negaria minha identidade.
Fomos as primeiras a chegarem no local onde o ônibus nos aguardava.
Quando sentei , pude observar com certa estranheza o tipo de pessoas que seriam nossos colegas de viagem. Eles carregavam muitas pranchas de surf, tatuagens, cabelos bem enrolados na parafina. Aquilo não fazia parte de meus sonhos naquele momento.
Realmente, meu objetivo era andar pela praia e sentada boa parte do tempo numa confortável espreguiçadeira , engolir a paz que o barulho e as ondas do mar me trazem....
A noite , o sono e o cansaço acumulado, tomaram conta de nós e logo estávamos dormindo no confortável ônibus.
Quando o sol já começava dar o ar da graça, tentávamos nos refazer da longa viagem.
Chegamos ao porto para dali embarcarmos p/ a ILHA GRANDE .
Observei de longe , que para entrar no barco que nos levaria , precisaria de muito tempo de academia , o que também não fazia parte de meus hábitos . Pedi socorro e a compreensão de minha filha.
_ Filha , como vou entrar nesse barco , que nem pára direito? È muito alto!!!!!!
_ Caaaaaaalma , mãe , eu te ajudo...( Adolescente com muito sono )
Devo dizer , que não estava, nem de longe ,perto do peso ideal para uma aventura dessa. Mas com dificuldade e a colaboração de dois banquinhos , um fora e outro dentro do barco , consegui entrar.
O passeio até a ILHA foi muito bonito e agradável , sem contar com o tempo de duração que meus cabelos suportariam lisos com o vento e os respingos que vinham das águas salgadas....
Assim que desembarcamos, fomos avisados de que teríamos 20 minutos para nos trocarmos e voltarmos para um passeio maravilhoso de barco e mergulho .
Quando chegamos á pousada , percebi que 20 minutos era muito tempo para ficarmos naquele quarto , que mal cabia 1/2 pessoa e estávamos em duas.
O banheiro comportava bem uma pessoa,... de lado , e na necessidade de lavar os cabelos só poderia fazê-lo se usasse um braço apenas.
Mas não seria eu, a desmancha prazeres, que acabava de chegar. Decidi que seria " a topa tudo ".
Depois de alguns minutos o lindo barco pára e somos avisados de que poderíamos mergulhar......
Realmente aquela água cristalina, lotada de peixes coloridos era tentadora para todos , menos para mim que já sofria pensando no pouco tempo que tive para curtir meus fios lisos.
_ Ô mãe, esquece o cabelo e entra no mar , você não veio até aqui só para admirar a paisagem, nè ?
Resolvi que deveria aproveitar o frescor das águas e a companhia dos cardumes que entrelaçavam nossas pernas.
Logo , pára uma barca menor ao lado da nossa vendendo água de côco, refrigerantes, cerveja , parecia cena da novela das 8.
Todos voltaram para o barco para mudarmos de praia e nos prepararmos para o almoço.
Quando o barco voltava para a pousada, sentia que algumas pessoas me olhavam.
Com certa discrição perguntei a minha filha :
_Sinto que com o vento e a umidade meus cabelos estão inchando , vc tem um boné?
_ Pode usar o meu.
Coloquei imediatamente, com certa dificuldade, pois era como se colocasse 10kgs de algodão dentro de um saco plástico muito pequeno, põe de um lado escapa de outro.
Mas quando o barco aumentou a velocidade, nem o tufo de cabelos crespos segurou o boné , que voou para fora do barco , me deixando com uma Poodle assustada. Por sorte me lembrei do capuz da malha de frio que carregava .
Já entrando na pousada , decidimos que eu tomaria o banho depois da LI ( minha filha ). Enquanto isso, eu aprontaria meu kit cabelos lisos, as 152 escovas, os cremes prés e pós , os óleos anti frizz e o protagonista da cena, o secador profissional de 2000watts e vento fortíssimo , que minha amiga da agência me conhecendo bem , avisara que lá era 110 a woltagem por escrito, pois sabia da minha doença com os cabelos.
Resolvi confirmar com o dono da pousada a woltagem e para meu desespero, ele diz que era 220 w. Não acreditando indaguei se ele tinha certeza , como se ele tivesse chegado conosco naquele momento......
Percebendo meu choque , foi buscar e me ofereceu o secador de sua esposa.
Era aquele secador do Paraguai, pequenininho , que não seca nem as sobrancelhas, sabe aquele que não tem woltagem tem " brisagem "? ( é uma verdadeira brisa ).
Agradeci muito e retornei para o quarto desolada . Como faria com a juba nos 4 dias de praia?Terminado o banho, minha filha , tentou mil idéias com a esperança de me ver mais animada , afinal era o primeiro dia de banho de mar .
_Mãe eu trouxe uns " tic - tacs " , tenta prender a frente com eles e atrás usa um elástico , vai ficar bom.
Fiz de tudo, deixei até um pouco de creme acreditando que os fios ficariam colados na cabeça , mas a parte da frente não se submeteu aos 6 'TIC-TACS " .
EU PRECISAVA DE 55 .
Bem, saimos para jantar ali perto mesmo e voltamos para dormir.
A cama já apresentava uma silhueta que não era a minha nem tão pouco a de minha filha.
Vira pra cá , vira pra lá e depois de tentarmos várias formas para descobrirmos com poderíamos nos encaixar na fôrma pronta, acabamos por dormir.
Dia seguinte, fomos chamadas as 6:30 da manhã, um café reforçado com frutas e geléias nos esperava e logo nos avisaram que faríamos uma TRILHA!!!!!!!!!!!!
_Uma trilha??????? È muito tempo?????? ( questionei um tanto preocupada)
_ Nãããão, ...... é tranquilo e cada um deve andar no seu rítmo. (respondeu a guia com muita
_Bem filha vamos levar uma mochila com garrafinhas d água , máquina fotográfica algum dinheiro e algumas coisinhas mais........
Após uma seção de alongamento, iniciamos a entrada na mata , até aí me sentia animada.
Uma vista cheia de verde, as frestas das árvores deixavam passar alguns raios de sol que denunciavam a forte umidade no ar , algumas pedras , subidas, descidas e logo o distanciamento do grupo , pois ela havia dito que cada um deveria andar no seu rítimo, alí eu andava no meu.
Percebi que a Li estava atrás de mim e cobrei....
_ Nossa filha vc é tão mais jovem, mais magra , faz academia e anda menos que eu?
_ AH! é porque vc faz eu carregar essa mochila cheia de coisas , se não fosse isso eu já estaria lá na frente.
Eu , sempre desafiadora.... _ AH!!! é , então me dá sua mochila , quero ver se vc anda na frente .....
Mais do que depressa , ela me passou a mochila e saiu correndo e em alguns minutos ,após uma curva fechada , não se via nem sinal dela.
Fiquei literalmente sozinha , sozinha não , com duas mochilas pesadas.
Passado uns 15minutos de solidão naquela estradinha estreita de terra batida, árvores enormes abraçadas por cipós, grossos e finos , pedras pontudas escorregadias e muita raíz levantada do solo , me bateu uma grande preocupação se ela encontraria o grupo que havia nos deixado para trás.
Mas acreditava que minha filha me aguardava no curva mais próxima , afinal era certa de que a Praia Dois Rios estava a poucos metros e logo estaríamos juntas novamente .
Pois é, essa curva nunca chegava e o medo começou a tomar conta de mim, foi quando avistei um homem voltando na estrada.
Ele usava muito pano amarrado no peito , uma calça bastante judiada pela terra , chapéu grande de palha , portava um bastão longo e fino e andava um pouco arcado para frente talvez para suportar o peso de sua mochila embora me parecesse vazia.
Pensei , esse é o tipo de pessoa que com certeza conhece o local . Como ele caminhava de cabeça baixa , fui logo me adiantando, com receio de que passasse por mim sem me notar.
_Por favor , a Praia Dois Rios está muito longe?
_Longe é um lugar que não existe, aqui. Respondeu como se tivesse devastado sozinho toda a ilha e olhando firme em meus olhos.
O desespero era grande demais para desistir no primeiro fracasso, então pensei , vou fazer a pergunta de modo diferente.
Arrisquei. _Demora muito tempo para chegar lá?
_Tempo é uma questão de consciência!!!!!!
Imediatamente percebi que não falávamos o mesmo idioma e nem por mímica nos entenderíamos........ Agradeci e continuei em frente, sozinha.
Aquela trilha era interminável , curvas que não acabavam , subidas e descidas sem fim e para colaborar com minha angústia me defronto com uma pedra grande que marcava uma bifurcação!!!!!!
E agora , pensava, para onde vou, por essa não esperava , nem uma placa, nem faixa , nem sinalização, que absurdo , tô perdida literalmente!!!!!!!!!!
Meu Deus me ajude, vou sentar e esperar , quem sabe aparece alguém.
O silêncio só não era total pois ouvia o barulho dos bambus que o vento empurrava uns contra os outros.
Mas como minha fé é grande e Deus costuma me atender prontamente, não demorou muito para ouvir uma conversa baixinha, levantei num salto a procura do meu salvador.
Eram três jovens ,que acredito ,queriam chegar no mesmo lugar que eu desejava.
_ Por favor, vocês vão para a praia Dois Rios?????
Eles passaram por mim , como se eu não existisse...
Insisti, mais alto. _ Hei, pra onde vocês estão indo?
Um deles parou e disse qualquer coisa , que me parecia estar falando em alemão.
Já entendi esses também não falavam minha língua .
De qualquer forma é melhor eu seguí-los. Antes perdida em três do que perdida sozinha , eles falariam português um dia ou eu aprenderia alemão por sinais.
E foi assim que após uns 30 minutos chegamos a tal praia.
Que alívio quando de longe pude ver a Li com o grupo já bem entrosada, mas o que não lhe tirou o direito de ouvir uma bronca por ter me deixado tão aflita.
Voltamos de barco e por isso todos chegaram ao mesmo tempo.
Na manhã seguinte , imaginei : hoje vou sentar na praia e observar aquela maravilha de mar......
Que nada , chegam dois monitores , um todo sarado e uma moça de olhos claros e pele bronzeada .
_ Hoje vcs vão fazer uma trilha muito bacana , vamos a uma praia lindíssima.
Já olhei firme p\ Li o que significava , de novo trilha?
_ Mãe fica tranquila, dessa vez vamos sempre juntas .
A topa tudo, concordou.....
_ Ele disse que é uma das praias mais bonitas daqui , não podemos perder.
E tudo recomeça como começou a outra caminhada , todo o grupo unido, sempre ouvindo andem cada um no seu rítimo, muito verde , umidade, árvores imensas e como num passe de mágica estávamos só nós duas ....
Como o humor estava começando a balançar , disse p/ Li .
_ Não é possível , estamos perdidas, o grupo todo está tão longe que nem conseguimos vê-los.
_Deixa , mãe , vamos sempre seguindo a estrada e logo chegaremos, lá.
Depois de muitas curvas , avistamos um clarão e as pessoas já de roupa de banho, instaladas na areia, algumas com cerveja na mão , outras no mar, nítido sinal de que tinham chegado alí há algum tempo. Mas o que me importava era que eu havia também chegado e no meu rítimo!!!!!!!
Agora sim , vou ter o MEU momento de prazer.
Retirei da mochila a toalha , tiramos a camiseta, o short, o tenis e a meia , procuramos um lugar para apoiar a mochila e penduramos nossa roupa que deveria ficar sem areia para voltarmos com elas.
_Vamos entrar no mar, filha ?????
_ AAAAAAAgora não , mãe, vou descançar um pouco.
Percebi que o meu tempo era bem diferente do dela, eu queria aproveitar tudo....... O cabelo já estava ruim mesmo , não fazia diferença.
Fui de encontro ao mar quase pronta para abraçá-lo, que mergulho delicioso, as ondas eram grandes , mas sempre gostei desse certo medo que ele provoca. Fiquei por algum momento de costas p\ a praia e admirava aquelas ondas cada vez maiores. De repente me voltei para a praia tentando achar a Li, e vejo todo mundo se vestindo rapidamente e os guias fazendo gestos para que todos saíssem do mar .
A Li me chamava e gesticulava também, saí do mar e fui ao seu encontro assustada.
_ O que houve , filha?????
_ AH!! mãe não sei explicar direito , mas o guia veio dizer que precisamos andar depressa porque está chegando um vento forte que chama Noroeste e o barco precisa ir embora se não é perigoso.
Corri para me vestir, mas com o corpo molhado nada fica fácil, a meia não entra , a blusa agarra no peito e não desce, a toalha caiu e se encheu de areia , não conseguia me secar pois o vento era muito forte e nem a canga, nem a toalha paravam de balançar.
_Vamos , gritava o guia , temos que fazer um pedaço da trilha a pé, depois pegamos o barco.
_Puxa , não deu nem para deitar na areia. Que perigo , agora filha , não posso andar no meu rítimo se não ficamos aqui, temos que correr.
E assim voltamos até a praia vizinha , o grupo seria dividido e dois barcos viriam nos buscar.
Nessa praia menor tinha um quiosque que vendia uns salgadinhos e refrigerantes. Perguntei para o guia se dava tempo de comprar uma água e umas batatinhas para matar a fome da Li. Ele disse que não havia problema desde que não demorasse.
Fiz tudo em questão de segundos . Avisei a guia que nos acompanhava .
_ Estamos prontas, quando for o nosso barco é só nos avisar .
Ela olha para mim com os olhos arregalados e grita .
_ Vocês estão ainda aí , o barco de vcs está de saída , olha ele lá , o outro já foi.
Todos já estavam dentro do barco, que já havia recolhido a escadinha e flutuava longe da ponte de madeira . E ela continuava gritando....
_Vai gente, corre, vcs não podem perder o barco , vai pelo mar mesmo!!!!
Esquecendo da minha performa , segurei a mochila no alto da cabeça , chamei a Li e me avancei mar adentro . Os primeiros passos foram seguros, mas de repente a água batia no meu queixo, as ondas que quebravam na praia me empurravam de volta para a praia e eu implorava , _filha me empurra para o barco , mas a incessante risada a enfraquecia . Voltei para a praia e dizia _ Assim não vai dar .
E a guia ...._ Tem que dar volta p\ o barco .
A Li me chamava , entre muitos risos, vamos mãe eu te ajudo.
Tentei mais uma vez e o homem do barco gritava de lá :
_ Larga a bolsa , dona, eu te ajudo.
Quando consegui chegar mais próxima do barco ele jogou a escada que bateu com força em minha canela , a dor era grande misturada ao medo de ficar para trás, não sei explicar como aconteceu, o homem de dentro do barco me puxa e conseguiu me carregar para dentro.
A Li subiu pela escadinha de cordas pendurada do lado de fora .
Realmente deu para sentir a fúria do tal " Noroeste " a barca balançava muito, a chuva provocava ainda mais as ondas e todos estavam muito tensos .
Conseguimos chegar , embora nervosos , mas sem maiores desastres.
Fomos para a pousada e o jantar daquela noite foi mais silêncioso porque ainda sentíamos o peso do susto. Porém no meio de nossas lembranças e conversas sobre o acontecido , vinham boas gargalhadas.
No dia seguinte , uma chuvinha fraca acolhia nosso desejo de ficarmos mais um pouco na fôrma ou melhor na cama e nem a mais hiper, super, mega TRILHA nos faria levantar cedo.
Passamos o dia passeando a pé , ali por perto.
Após o jantar arrumamos as malas para o retorno em terra firme no dia seguinte.
Depois do último café na pousada, pela manhã, fomos pegar o barco de volta .
Conforme o barco se afastava , diminuindo oas poucos a paisagem e fazendo da chamada ILHA GRANDE uma ilha pequenina perdida no oceâno, pensei que talvez minha amiga havia sugerido esse passeio para que eu voltasse com uns quilos a menos e que mesmo não sabendo o que me esperava , aprendi que a TRILHA foi para mim um momento de superação , consciência do limite corporal e de tudo que somos capazes.
Daqui para frente não confiarei tão cegamente nas sugestões dos meus amigos .......

Um comentário:

Anônimo disse...

Ai Celinha, que post divertido!
Olha, eu t6o num escritório super sério, todo mundo fantasiado de gravata e tailler e olhando para a louca aqui, que ria na frente do micro!!
Adorei!
Bjs
Kika