terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Já viram ansiedade pegar avião?

Tenho viajado com certa frequência e observado que sempre no momento do embarque a ansiedade dos passageiros “salta aos poros”!
Alguns disfarçam atrás de revistas, onde tentam com esforço se concentrarem no que lêem, mas os ouvidos aguçados registram todas as conversas alheias.
Outros mal falam com seus acompanhantes, pois nada escapam aos olhos.
Uns mais ousados iniciam as velhas conversinhas com os desconhecidos mais próximos na fila, fazendo um longo questionário. - Vai para Milão? (todos estão no mesmo vôo, mais essa é a pergunta mais comum).
- Vai a trabalho ou de férias? Tem conhecidos ou familiares lá?
Até aí, tudo corre com tranquilidade, pois a fila quilométrica só anda com o consentimento do agente da companhia de aviação.
Iniciado o embarque...
É delicioso observar os personagens que aparecem nessa hora.
Aquele que viaja pela primeira vez, mas já se informou tanto de como deve agir, que se o último da fila tiver uma dúvida, ele é capaz de sair do seu quarto lugar para responder e passar sua “farta “ experiência. Esse se reconhece fácil, ele costuma falar alto.
Ah! Tem sempre pelo menos um que se vê logo pela expressão sisuda, que só vai falar se for para pedir algo para o comissário de bordo.
Muitos são indecisos, eles necessitam perguntar para várias pessoas, muitas vezes, se aquela fila é para o destino esperado.
Também tem aquele, que não se dá conta, de que cada bilhete trás um número e uma letra que correspondem ao seu lugar.
Esse é mestre em colocar rapidamente suas bagagens em cima do assento que escolheu e se instala com tal rapidez, que você fica pensando, como ele encontrou tão fácil seu posto?
Normalmente é o primeiro a pegar o jornal.
Alguns minutinhos mais tarde, se você estiver atento verá chegar o verdadeiro dono da poltrona; mais desapontado por tirá-lo do seu lugar do que o próprio.
Esse mostra o bilhete que confirma seu posto e o já instalado se levanta, com cara de paisagem, aí já sem a segurança inicial, tenta disfarçar, e com tamanha lentidão procura por outro lugar.
Mas demora a acreditar que deverá suportar 11 horas de vôo ao lado de uma criança no colo da mãe.
É meu colega de viagem, seu lugar é ali mesmo, não tem escapatória.
Ele caminha agora em câmera lenta, apostando para si mesmo, que assim que o avião decolar com certeza ele encontrará outro lugar para conseguir dormir com tranqüilidade.
Engano!
O vôo está lotado.
Ele se ajeita bem, na pequena poltrona, aperta os cintos e vamos para a decolagem!
Alguns passageiros já começam a despertar meu medo adormecido, quando olho em volta e vejo uns três, fazendo o sinal da cruz. Confesso que não fiz por pura timidez.
Firmo a cabeça no encosto porque essa é a pior hora , detesto a sensação de tontura e vertigem que a decolagem me provoca.
- “Senhora, per lei pasto especiale?” (para a senhora comida especial?).
(Há uns quatro anos , respondi um questionário para a companhia aérea , a respeito da alimentação servida a bordo e disse que prefiro uma comida mais leve para viajar).
Depois disso toda viagem que faço com essa companhia, passo pelo constrangimento de receber a bandeja antes de todos os outros passageiros.
Já avisei por telefone, e-mail, que não tenho nem um problema de saúde e que posso me alimentar igual aos outros, mas não consigo reverter essa situação.
Além de todos os olhares se voltarem para mim, essa atitude faz ainda aflorar o meu profundo sentimento de culpa por estar acima do peso.
Explico toda vez a situação para a aeromoça que diz que os pratos já estão contados e ela pede minha compreensão.
Só não entendo porque ela vem me perguntar, então?
Concordo para acabar o mais rápido com aquela situação embaraçosa e acabo comendo toda vez uma alimentação, que de especial, só tem a falta do pãozinho com requeijão, que observo em todas as outras bandejas, e que adoro.
Aí eu fico mais tempo com aquela bandeja de legumes que o vapor matou todo o seu sabor, sobre as pernas sem poder me mexer.
Tento distrair-me com muita leitura, mas não há livros, nem revistas que resistam a tantas horas na mesma posição.
Bem, o que me resta? Com grande doze de otimismo decido assistir um filme.
Solto aquele controle do braço da poltrona. Mas este que deveria conter apenas o botão liga/ desliga e outro para selecionar o filme desejado, vem com botões de várias cores. Tenho a esperança de logo encontrar o menu para escolher um filme.
Já não tenho habilidade nem com o controle da tv de casa que esta lá há uns oitos anos. Brigo com todos aqueles botões; tento inúmeras vezes e nada. Observo que meu vizinho sofre com o mesmo problema.
Penso, talvez esteja quebrada, mas sempre o meu?
Todos os outros assistem tranqüilos algum filme. É estranho.
Então chamo a aeromoça, mas ela fala tão rápido que só consigo entender que devo esperar uns quinze minutos!
Volto para minha leitura dando alguns intervalos para observar as pessoas.
O passageiro que precisou mudar para o lugar marcado em seu bilhete, se mexe procurando uma posição para dormir, mas o espaço que já é pequeno é também dividido com uma criança que não pára e o pior, uma mãe aflita que gira a criança por todos os ângulos tentando alcamá-la.
Isso só se dará, pela experiência de outros vôos, após oito horas de alguns choros cansativos.
A luz se apaga e aos poucos as conversas vão se silenciando.
Não demoro a ouvir alguns roncos, o que me incomoda muito, por não ter a mesma facilidade para dormir.
Insisto mais um pouco com o controle, já deixei passar os quinze minutos do qual fui orientada, mas não consigo nada.
O jeito é voltar para a leitura.
Os músculos das pernas já começam a reclamar a dor lombar suportou com dignidade nove horas de vôo, a garganta está seca.
Levanto e ando um pouco no corredor e aproveito para faze o que mais gosto, observar as pessoas.
Muitos dormem com a boca aberta, outros estão exatamente com cara de papel de seda amassado, uns menos sortudos estão com os cabelos tão desalinhados que nem uma chapinha de cerâmica os alinharia.
Os mais inteligentes, ao meu ver assistem todos os filmes.
Ainda existem aqueles que preferem as laterais dos banheiros para esticarem as pernas, alguns se arriscam ainda a fazer exercícios mais tímidos.
Como não consegui conversar, o que me distraí bastante, volto para meu lugar.
Sento com cuidado pois minha vizinha tem um sono de dar inveja.
Resolvo fechar os olhos com a esperança de conseguir dormir um pouco.
Muito devagar me entrego ao cansaço, que trás um sono distante.
Alguns minutos de relaxamento e quando sinto que pela primeira vez vou dormir no avião, as luzes se acendem e logo avisam que servirão a “prima colacione” (café da manhã).
Novamente sou diferenciada pela “bandeja especiale”.
Puxa nem no café da manhã, mereço um pãozinho?
Dessa vez mandaram um integral. Já melhorou.
Logo tudo volta para o carinho mágico.
Aquele que é tão pequeno mas comporta tantas refeições comuns e algumas poucas para “pessoas especiais”!
Em seguida vem o aviso:
- Senhores passageiros, permaneçam sentados, apertem os cintos, coloque os encostos das poltronas em posição vertical, pois iniciaremos a aterrizagem.
Desço rapidamente, pois ainda tenho que suportar mais quarenta e cinco minutos de vôo para Roma.
Lá é o meu destino, que encontra meu maior desejo de suportar 11 horas de vôo acordada, me alimentando de “comida especial” e ainda assim mantendo um sorriso estampado no rosto por encontrar o meu amor.

Nenhum comentário: